Disc 1 | ||||||
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1. |
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Ha uma musica do Povo
Nem sei dizer se e um Fado ? Que ouvindo-a ha um ritmo novo No ser que tenho guardado... Ouvindo-a sou quem seria Se desejar fosse ser ... E uma simples melodia Das que se aprendem a viver... Mas e tao consoladora A vaga e triste cancao... Que a minha alma ja nao chora Nem eu tenho coracao... Sou uma emocao estrangeira, Um erro de sonho ido... Canto de qualquer maneira E acabo com um sentido |
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2. |
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Trago um Fado no meu canto,
Canto a noite ate ser dia Do meu povo trago o pranto No meu canto a Mouraria Tenho saudades de mim Do meu amor mais amado Eu canto um pais sem fim O mar, a terra, o meu Fado Meu Fado Meu De mim so me falto eu Senhora da minha vida Do sonho, digo que e meu E dou por mim ja nascida Trago um Fado no meu canto Na minh'alma vem guardado Vem por dentro do meu espanto A procura do meu Fado Meu Fado Meu |
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3. |
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Se ser fadista e ser lua
E perder o sol de vista Ser estatua que se insinua Entao eu nao sou fadista. Se ser fadista e ser triste E ser lagrima prevista Se por magoa o fado existe Entao eu nao sou fadista. Se ser fadista e, no fundo, Uma palavra trocista Rocando as bocas do mundo Entao eu nao sou fadista Mas se e partir a conquista De tanto verso ignorado Entao eu nao sou fadista Eu sou mesmo o proprio fado! |
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4. |
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Quando me sinto so,
Como tu me deixaste, Mais so que um vagabundo Num banco de jardim E quando tenho do, De mim e por contraste Eu tenho odio ao mundo Que nos separa assim. Quando me sinto so Sabe-me a boca a fado Lamento de quem chora A sua triste magoa Rastejando no po Meu coracao cansado Lembra uma velha nora Morrendo a sede de agua. P'ra que nao facam pouco Procuro nao gritar A quem pergunta minto Nao quero que tenham do Num egoismo louco Eu chego a desejar Que sintas o que sinto Quando me sinto so. |
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5. |
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Ando na berma
Tropeco na confusao Desco a avenida E toda a cidade estende-me a mao Sigo na rua, a pe, e a gente passa Apressada, falando, o rio defronte Voam gaivotas no horizonte So o teu amor e tao real So o teu amor… Sao montras, ruas E o transito Nao para ao sinal Sao mil pessoas Atravessando na vida real Os desenganos, emigrantes, ciganos Um dia normal, Como a brisa que sopra do rio Ao fim da tarde Em Lisboa afinal So o teu amor e tao real So o teu amor… Gente que passa A quem se rouba o sossego Gente que engrossa As filas do desemprego, Sao vendedores, policias, bancas, jornais Como os barcos que passam tao perto Tao cheios Partindo do cais So o teu amor e tao real So o teu amor… |
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6. |
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Ha palavras que nos beijam
Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperanca, De imenso amor, de esperanca louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No marmore distraido No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite e mais forte, Ao silencio dos amantes Abracados contra a morte. |
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7. |
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Com o a agua da nascente
Minha mao e transparente Aos olhos da minha avo. Entre a terra e o divino Minha avo negra sabia Essas coisas do destino. Desagua o mar que vejo Nos rios desse desejo De quem nasceu para cantar. Um Zambeze feito Tejo De tao cantado q'invejo Lisboa, por la morar. Vejo um cabelo entrancado E o canto morno do fado Num xaile de caracois. Como num conto de fadas Os batuques sao guitarras E os coqueiros, girassois. Minha avo negra sabia Ler as coisas do destino Na palma de cada olhar. Queira a vida ou que nao queira Disse deus a feiticeira Que nasci para cantar. |
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8. |
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Nasceu de ser Portugues
Fez-se a vida pelo mundo Foi p'lo sonho vagabundo Foi pela terra abracado Bem querido ou mal amado O Fado Viveu de ser Portugues Foi alegre e foi gingao Por ser um fado e cancao Por ser futuro e passado Mal querido ou bem amado O Fado Cada vez mais Portugues Anda nas asas do vento As vezes solta um lamento E pede p'ra ser achado Ele e querido, ele e amado O Fado |
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9. |
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Mal me quer a solidao
Bem me quer a tempestade Mal me quer a ilusao Bem me quer a liberdade Mal me quer a voz vazia Bem me quer o corpo quente Mal me quer a alma fria Bem me quer o sol nascente Mal me quer a casa escura Bem me quer o ceu aberto Bem me quer o mar incerto Mal me quer a terra impura Mal me quer a solidao Entre o fogo e a madrugada Mal me quer ou bem me quer Muito, pouco, tudo ou nada... |
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10. |
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Quem dorme a noite comigo
E meu segredo, Mas se insistirem, lhes digo, O medo mora comigo, Mas so o medo, mas so o medo. E cedo porque me embala Num vai-vem de solidao, E com silencio que fala, Com voz de movel que estala E nos perturba a razao. Gritar: quem pode salvar-me Do que esta dentro de mim Gostava ate de matar-me, Mas eu sei que ele ha-de esperar-me Ao pe da ponte do fim. |
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11. |
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Este amor, este meu fado,
Tao vivido e magoada Entre o sim e o todavia, Este amor desgovernado, Marcado a fogo e calcado Em funda melancolia Este amor dilacerado, Este amor que noite e dia Me arrebata e me agonia, Este amor desenganado, De saudades macerado, A encher-me a vida vazia, Este amor alucinado, Este amor que desvaria Entre o luto e a alegria, Sendo assim desencontrado Meu amor desesperado, Que outro amor eu cantaria? |
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12. |
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Por mais que eu queira ou nao queira
Salta-me a voz para a cantiga Por mais que eu faca ou nao faca Quem manda e ela, por mais que eu diga Por mais que eu sofra ou nao sofra Ela e quem diz por onde vou Por mais que eu peca ou nao peca Nao tenho mao na voz que sou. Mesmo que eu diga que nao quero Ser escrava dela e deste fado Mesmo que fuja em desespero Ela aparece em qualquer lado Mesmo que vista algum disfarce Ela descobre-me a seguir Mesmo que eu chore ou nao chore A voz que eu sou desata a rir. Por mais que eu quisesse ter So um minuto de descanso Por muito que eu lhe prometesse Voltar a ela e ao seu canto Por muito que eu fizesses juras A esta voz que nao me deixa Perguntou sempre tresloucada: Eu ja te dei razao de queixa? Por muito que eu apague a chama Ela renasce ainda maior Por muito que eu me afaste dela Fica mais perto e ate melhor Por mais que eu queira entender A voz que tenho e tao teimosa Por mais que eu lhe tire a letra Faz por esquecer e canta em prosa. |
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13. |
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Duas lagrimas de orvalho
Cairam nas minhas maos Quando te afaguei o rosto Pobre de mim pouco valho P'ra te acudir na desgraca P'ra te valer no desgosto Porque choras nao me dizes Nao e preciso dize-lo Nao dizes eu adivinho Os amantes infelizes Deveriam ter coragem Para mudar de caminho P'lo amor damos a alma Damos corpo damos tudo Ate cansarmos na jornada Mas quando a vida se acalma O que era amor e saudade E a vida ja nao e nada Se estas a tempo, recua Amordaca o coracao Mata o passado e sorri Mas se nao estas, continua Disse-me isto minha mae Ao ver-me chorar por ti |
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14. |
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Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidao imensa! Eu queria ser a Pedra que nao pensa, A pedra do caminho, rude e forte! Eu queria ser o Sol, a luz intensa, O bem do que e humilde e nao tem sorte! Eu queria ser a arvore tosca e densa Que ri do mundo vao e ate da morte! Mas o Mar tambem chora de tristeza… As arvores tambem, como quem reza, Abrem, aos Ceus, os bracos, como um crente! E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lagrimas de sangue na agonia! E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!... |