Disc 1 | ||||||
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(J. Slauerhoff - Custodio Castelo)
Tinha amor a terra que o mar lhe ocultava Amor, como uma mulher ao ente que vai nascer Assim ia cuidando e em sonhos se afundava No alto da coberta, olhando a proa erguer Pareceu-lhe que algo se mexia Uma nevoa ao longe a querer romper Enquanto o barco, espumando, as aguas dividia De encontro a terra prestes a nascer Ao descobri-la porem, soube-lhe a traicao Nada os unia. Oculto no silencio, nenhum cordao De novo quis encobri-la mas era tarde de mais: Nua jazia aos olhos do mundo. Apenas lhe restava Seguir curso tristemente, sem destino nem cais E sem corrente ? vazio de si no vazio dos mares |
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3. |
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Sera que sou lento por ser triste,
Porque tudo julgo inutil e vao, E em terras de sol nada mais me assiste Que uma sombra aquem da imensidao? Ou sera que sou triste por ser lento, Porque nunca me lanco ao vasto mundo So Lisboa junto ao Tejo e meu intento Onde anonimo como sempre, me afundo E por isso dou comigo, a deriva P’las vielas escuras da pobre Mouraria? Ai encontro muitos como eu, sem via Os que vivem sem amor, fe, alegria... |
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9. |
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11. |
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Tenho tantas recordacoes como
Folhas tremendo nos ramos, Canas murmurando a beira-rio, Aves cantando no ceu azul, Fremito, murmurios, cancao: Tantas! E mais disformes que sonhos. Mais ainda: De todas as esferas celestes; Como a onda, que ao quebrar, Invade a imensidao da praia, sem Nunca porem, um grao de areia expulsar. Em atropelo, ouco-as segredar, Ora agrestes, ora ternas, duras ou sinceras; De tanta fartura, ainda dou em louco, Esqueco quem sou e torno-me um outro. As que sao tristes, mais tristes me soam; Agora que sei outro recurso nao ter, Que ficar de novo encalhado Nas margens do eterno sofrer. Tambem as felizes, se tornam mais tristes, Pois para sempre se esvaneceram: Beijos, luxos, palavras do passado, Sao como frutos que em mim morreram. Nada mais tenho que recordacøes, A minha vida ja ha muito se foi. Como pode um morto cantar ainda? Em mim ja nenhum canto tem vida. Nas margens dos grandes mares, Na funda escuridao dos bosques, Ouco ainda o grande rumor despertar E nenhuma voz que o faca libertar. |
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12. |
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No fundo, sinto-me apodrecer.
Agora sei onde e de que irei morrer: A beira do Tejo, de suas margens macilentas e inclinadas. Nada e mais belo e triste E a existencia sublime e lenta. De tarde vagueio pelos prados E a noite ouco o queixume dos fados Ate romper a madrugada. - “A vida e imensa tristura” - E logo sinto as amarras desse mal Que no tempo aguarda fatal. Sao as varinas quem canta o fado E os entes que ja nada esperam. -“Mais um copo pra esquecer”- Deixam-no desamparado, Ecoando por becos e vielas, Num silencio que consente. Um deles ouvi cantar E minha frieza tornou-se em pesar: “Nada me consola alem da dor. A vida nao conhece o perdao, Mais nao tenho que este meu fado P’ra me encher a noite, sem amor.” No fundo, sinto-me apodrecer; Aqui, de nada serve morrer, Onde tudo se perde na volupia da dor: Lisboa, outrora cidade das cidades, Arrasta o passado no presente, E ve nas ruinas uma gloria que mente. Por essa miragem me encantei; Tambem eu descobri e conquistei, Para afinal, de tudo ser perdedor Morrendo na lentidao da corrente, Junto a campa do mais nobre Dos sonhos: “tudo e dor”. |