Disc 1 | ||||||
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1. |
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Sou do fado
Como sei Vivo um poema cantado De um fado que eu inventei A falar Nao posso dar-me Mas ponho a alma a cantar E as almas sabem escutar-me Chorai, chorai Poetas do meu pais Troncos da mesma raiz Da vida que nos juntou E se voces nao estivessem a meu lado Entao nao havia fado Nem fadistas como eu sou Esta voz tao dolorida E culpa de todos vos Poetas da minha vida E loucura, ouco dizer Mas bendita esta loucura de cantar e de sofrer Chorai, chorai Poetas do meu pais Troncos da mesma raiz Da vida que nos juntou E se voces nao estivessem a meu lado Entao nao havia fado Nem fadistas como eu sou |
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2. |
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Quem dorme a noite comigo
E meu segredo, Mas se insistirem, lhes digo, O medo mora comigo, Mas so o medo, mas so o medo. E cedo porque me embala Num vai-vem de solidao, E com silencio que fala, Com voz de movel que estala E nos perturba a razao. Gritar: quem pode salvar-me Do que esta dentro de mim Gostava ate de matar-me, Mas eu sei que ele ha-de esperar-me Ao pe da ponte do fim. |
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3. |
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E varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata Na canastra, a caravela, No coracao, a fragata Na canastra, a caravela, No coracao, a fragata Em vez de corvos no xaile Gaivotas vem pousar Quando o vento a leva ao baile, Baila no baile com o mar Quando o vento a leva ao baile Baila no baile com o mar E de conchas o vestido Tem algas na cabeleira E nas veias o latido Do motor duma traineira E nas veias o latido Do motor duma traineira Vende sonho e maresia, Tempestades apregoa, Seu nome proprio - maria, Seu apelido - lisboa Seu nome proprio - maria Seu apelido - lisboa |
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4. |
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Ando na berma
Tropeco na confusao Desco a avenida E toda a cidade estende-me a mao Sigo na rua, a pe, e a gente passa Apressada, falando, o rio defronte Voam gaivotas no horizonte So o teu amor e tao real So o teu amor… Sao montras, ruas E o transito Nao para ao sinal Sao mil pessoas Atravessando na vida real Os desenganos, emigrantes, ciganos Um dia normal, Como a brisa que sopra do rio Ao fim da tarde Em Lisboa afinal So o teu amor e tao real So o teu amor… Gente que passa A quem se rouba o sossego Gente que engrossa As filas do desemprego, Sao vendedores, policias, bancas, jornais Como os barcos que passam tao perto Tao cheios Partindo do cais So o teu amor e tao real So o teu amor… |
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5. |
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Ha uma musica do Povo
Nem sei dizer se e um Fado ? Que ouvindo-a ha um ritmo novo No ser que tenho guardado... Ouvindo-a sou quem seria Se desejar fosse ser ... E uma simples melodia Das que se aprendem a viver... Mas e tao consoladora A vaga e triste cancao... Que a minha alma ja nao chora Nem eu tenho coracao... Sou uma emocao estrangeira, Um erro de sonho ido... Canto de qualquer maneira E acabo com um sentido |
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6. |
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Olha o sol que vai nascendo,
Anda ver o mar, Os meninos vao correndo Ver o sol chegar Menino sem condicao Irmao de todos os nus Tira os olhos do chao, Vem ver a luz Menino do mal trajar Um novo dia la vem So quem souber cantar Vira tambem Negro, Bairro negro, Bairro negro Onde nao ha pao Nao ha sossego Menino pobre teu lar Queira ou nao queira o papao Ha-de um dia cantar Esta cancao Olha o sol Que vai nascendo... Se ate da gosto cantar Se toda a terra sorri Quem te nao ha-de amar Menino a ti? Se nao e furia a razao Se toda a gente quiser Um dia has-de aprender Haja o que houver Negro bairro negro, Bairro negro Onde nao ha pao Nao ha sossego Menino pobre o teu lar Queira ou nao queira o papao Ha-de um dia cantar Esta cancao Olha o sol que vai nascendo Anda ver o mar |
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7. |
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Trago um Fado no meu canto,
Canto a noite ate ser dia Do meu povo trago o pranto No meu canto a Mouraria Tenho saudades de mim Do meu amor mais amado Eu canto um pais sem fim O mar, a terra, o meu Fado Meu Fado Meu De mim so me falto eu Senhora da minha vida Do sonho, digo que e meu E dou por mim ja nascida Trago um Fado no meu canto Na minh'alma vem guardado Vem por dentro do meu espanto A procura do meu Fado Meu Fado Meu |
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8. |
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Duas lagrimas de orvalho
Cairam nas minhas maos Quando te afaguei o rosto Pobre de mim pouco valho P'ra te acudir na desgraca P'ra te valer no desgosto Porque choras nao me dizes Nao e preciso dize-lo Nao dizes eu adivinho Os amantes infelizes Deveriam ter coragem Para mudar de caminho P'lo amor damos a alma Damos corpo damos tudo Ate cansarmos na jornada Mas quando a vida se acalma O que era amor e saudade E a vida ja nao e nada Se estas a tempo, recua Amordaca o coracao Mata o passado e sorri Mas se nao estas, continua Disse-me isto minha mae Ao ver-me chorar por ti |
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9. |
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Do vale a montanha
Da montanha ao monte Cavalo de sombra Cavaleiro monge Por casas, por prados Por quinta e por fonte Caminhais aliados Do vale a montanha Da montanha ao monte Cavalo de sombra Cavaleiro monge Por penhascos pretos Atras e defronte Caminhais secretos Do vale a montanha Da montanha ao monte Cavalo de sombra Cavaleiro monge Por plainos desertos Sem ter horizontes Caminhais libertos Do vale a montanha Da montanha ao monte Cavalo de sombra Cavaleiro monge Por invios caminhos Por rios sem ponte Caminhos sozinhos Do vale a montanha Da montanha ao monte Cavalo de sombra Cavaleiro monge Por quanto e sem fim Sem ninguem que o conte Caminhais em mim. |
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10. |
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Se ser fadista e ser lua
E perder o sol de vista Ser estatua que se insinua Entao eu nao sou fadista. Se ser fadista e ser triste E ser lagrima prevista Se por magoa o fado existe Entao eu nao sou fadista. Se ser fadista e, no fundo, Uma palavra trocista Rocando as bocas do mundo Entao eu nao sou fadista Mas se e partir a conquista De tanto verso ignorado Entao eu nao sou fadista Eu sou mesmo o proprio fado! |
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11. |
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Ha palavras que nos beijam
Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperanca, De imenso amor, de esperanca louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No marmore distraido No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite e mais forte, Ao silencio dos amantes Abracados contra a morte. |
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12. |
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Eu fui a Feira de Castro
P'ra comprar um par de meias Vim de la cumas chanatas E dois brincos nas orelhas As minhas ricas tamancas Pediam traje a rigor Vestido curto e decote Por vias deste calor Quem vai a Feira de Castro E se apronta tao bonito Nao pode acabar a Feira Sem entrar no bailarico Sem entrar no bailarico A modos que bailacao Ai que me deu um fanico Nos bracos de um manganao Vai acima, vai abaixo Mais beijinho, mais bejeca E la se foi o capaho Qu'iludiu me coracao E fui a Feira de Castro E vim da Fira de Castro E jurei para mais nao... |
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13. |
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Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidao imensa! Eu queria ser a Pedra que nao pensa, A pedra do caminho, rude e forte! Eu queria ser o Sol, a luz intensa, O bem do que e humilde e nao tem sorte! Eu queria ser a arvore tosca e densa Que ri do mundo vao e ate da morte! Mas o Mar tambem chora de tristeza… As arvores tambem, como quem reza, Abrem, aos Ceus, os bracos, como um crente! E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lagrimas de sangue na agonia! E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!... |
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14. |
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Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera Se quebrava e desfazia Ai funesta primavera Quem me dera, quem nos dera Ter morrido nesse dia E condenaram-me a tanto Viver comigo meu pranto Viver, viver e sem ti Vivendo sem no entanto Eu me esquecer desse encanto Que nesse dia perdi Pao duro da solidao E somente o que nos dao O que nos dao a comer Que importa que o coracao Diga que sim ou que nao Se continua a viver Todo o amor que nos prendera Se quebrara e desfizera Em pavor se convertia Ninguem fale em primavera Quem me dera, quem nos dera Ter morrido nesse dia |
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15. |
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16. |
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E meu e vosso este fado
Destino que nos amarra Por mais que seja negado As cordas de uma guitarra Sempre que se ouve o gemido De uma guitarra a cantar Fica-se logo perdido Com vontade de chorar O gente da minha terra Agora e que eu percebi Esta tristeza que trago Foi de vos que recebi E pareceria ternura Se eu me deixasse embalar Era maior a amargura Menos triste o meu cantar O gente da minha terra Agora e que eu percebi Esta tristeza que trago Foi de vos que recebi (SOLO) O gente da minha terra Agora e que eu percebi Esta tristeza que trago Foi de vos que recebi |